segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Mulheres Trabalhadoras e o Acordo Coletivo Especial (ACE)

Por Paula Alvarenga, da Regional Maringá

No final de 2012 foi entregue pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC  ao Congresso nacional o projeto de lei acerca do ACE (Acordo Coletivo Especial).
 O ACE propõe “modernizar as relações entre capital e trabalho" e embora tenha sido apresentado por um sindicato historicamente ligado a CUT e contenha "especial" no nome, tal acordo nada possui de especial para os trabalhadores.
Modernizar as relações entre capital e trabalho nada mais é que a flexibilização da CLT, uma Reforma Trabalhista de cara nova. PT e CUT se apropriam e reproduzem todo o discurso utilizado pela patronal e pelo PSDB na década de 1990, para atacar e tentar destruir os direitos (mínimos) dos trabalhadores.
Segundo o ACE, o acordado prevalecerá sobre o legislado. Assim, o sindicato e as empresas poderão estipular condições específicas de trabalho aplicáveis ao âmbito da empresa. Ou seja, a empresa poderá estabelecer condições de trabalho e salário independentes da legislação em vigor. Um retrocesso histórico para a classe trabalhadora brasileira!
 Embora atualmente predomine o discurso do sindicalismo de resultados cutista, de que é possível conciliar interesses entre patrões e empregados, na prática sabemos que a relação existente entre patrões e empregados é permeado por conflitos, já que  são duas classes opostas, com interesses opostos. Os patrões buscam aumentar a produção e o lucro incessantemente, enquanto os trabalhadores buscam melhores condições de trabalho e salário.  Interesses inconciliáveis, portanto. Pois é impossível para a classe trabalhadora obter melhores salários e condições de trabalho sem atingir o lucro dos patrões. Por conta disso, cabem aos sindicatos, entidades da classe trabalhadora, intervir nesse conflito em favor dos trabalhadores.
Se ao falarmos de burgueses e proletários já partimos de uma relação desigual, pois vivemos em um Estado Burguês, onde a burguesia tem em suas mãos o poder do capital, ao falarmos das trabalhadoras, a desigualdade é maior ainda, por conta da dobradinha machismo e exploração.
Essa dobradinha tem como carro-chefe a ideia de que a mão de obra feminina é para reserva ou menos qualificada. Não é mera coincidência, portanto, que nas estatísticas as mulheres constituem 53% dos desempregados, 70% da população em situação de miséria e recebem em média 30% menos que os homens.
Por serem tratadas como mão de obra menos qualificada por conta da desigualdade, o trabalho e os direitos específicos das mulheres são os mais vulneráveis. E com uma legislação submetida à "negociação" desigual e que intensifica o lado perverso da luta de classes em tempos de crise, essa vulnerabilidade aumentará ainda mais.
 Se atualmente a CLT já não é cumprida em muitos locais de trabalho, com o ACE, ela deixará de existir. Um bom exemplo é a lei da licença maternidade de quatro meses. Dados confirmam que 60% das trabalhadoras em situação de informalidade ou de pequenas e médias empresas não têm esse direito assegurado, e muitas vezes são demitidas na volta ao trabalho. A licença amamentação, por sua vez apenas existe no papel, sendo solenemente ignorada. Tanto que Sérgio Nobre, na introdução da cartilha elaborada pelo sindicato do ABC para propagandear o projeto, utiliza-a como exemplo  de leis que hoje são inaplicáveis.
Mais uma vez o governo petista mostra de que lado está e trai mais uma vez a confiança da classe que o elegeu. Mais uma vez cai por terra o discurso de que uma mulher no poder já é o bastante para nos representar. Esse é mais um motivo para que lutemos para que seja barrado o Acordo Coletivo Especial. Vamos impedir mais esse ataque aos direitos e interesses da classe trabalhadora! Pelo cumprimento e ampliação da CLT! Não a flexibilização de nossos direitos!!

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