segunda-feira, 21 de junho de 2010

Trabalhadores gregos organizam nova greve geral 

Leia o relato do dirigente Sotiris Martalis, que esteve no Congresso da Conlutas e no Conclat, sobre os últimos acontecimentos na Grécia
Sotiris Martalis, de Atenas

O governo da Grécia anunciou uma nova lei sobre as relações trabalhistas. É importante notar que essa lei não será votada no Congresso. Ao invés disso, será ratificada como lei de Estado, como um decreto presidencial. A esquerda acredita que este ato viola a Constituição.

Em essência, a nova lei acaba com os Acordos Coletivos entre patrões e empregados. O salário mínimo não será determinado pelo Acordo Nacional Coletivo, mas por um decreto presidencial. A compensação para os trabalhadores demitidos será reduzida a 50% (quando o empregador avisa o trabalhador quatro meses antes da demissão).

A maior federação sindical, a GSEE (Conferederção Geral dos Trabalhadores no Setor Privado) e ADEDY (Confederação Geral dos Trabalhadores públicos) convocaram uma greve geral de 24 horas no dia 29 de junho.

Os sindicatos já discutiram sobre uma próxima greve nos primeiros dias de julho, quando o governo planeja impor sua nova lei sobre o Serviço de Seguridade social e as pensões. Queremos destacar que a greve de 29 de junho é a 5ª greve geral desde o início do ano.

Os trabalhadores do metrô estão em greve por três dias e vão continuar na segunda feira, por decidirem continuar com greves de 24 horas. Essa greve foi convocada para evitar a demissão anunciada de 289 trabalhadores, que deveria acontecer em agosto. Em solidariedade com os metroviários, os trabalhadores de todo o transporte público também estão organizando paralisações.

VÍDEO: SOTIRES MARTALIS, no ato da pré-candidatura Zé Maria


Leia entrevista com Sotires Martalis, trabalhador grego, durante o Conclat

terça-feira, 8 de junho de 2010

ZÉ MARIA E CACAU FALAM SOBRE OS CONGRESSOS E A RUPTURA

NOVA CENTRAL É FUNDADA, MAS INTERSINDICAL ROMPE COM O CONGRESSO
Setor minoritário abandona o Conclat, com o argumento da discussão sobre o nome da nova entidade

Direto de Santos (SP)

Milhares e milhares de ativistas sindicais se reuniram para eleger cerca de três mil delegados que se deslocaram de todo o país para Santos, com a proposta de fundar uma nova central. Existia um amplo acordo de formar uma central que fosse uma alternativa às centrais governistas, e com uma plataforma de ação para as lutas imediatas dos trabalhadores. Também houve acordo entre todas as forças convocantes do congresso de que as diferenças que existissem deveriam ser resolvidas pela base, no próprio congresso.

No entanto, depois de perderem a votação da última diferença, sobre o nome da entidade, a Intersindical, a Unidos para Lutar (CST), e o Movimento Avançando Sindical (MAS) romperam com o congresso, desrespeitando não só os outros delegados, mas também as regras sob as quais foi convocado o congresso.

Esses setores não aceitaram a proposta vitoriosa de nome: Conlutas-Intersindical. Central Sindical e Popular (CSP). Terão que explicar em suas bases porque rompem com um congresso em função de algo como o nome da entidade.

Essa discussão tinha como pano de fundo uma negação sectária por parte da Intersindical de que houvesse qualquer menção da Conlutas no nome da nova entidade. Queriam, assim, negar a rica contribuição dada nestes seis anos que a Conlutas existiu, como nas grandes mobilizações do funcionalismo contra a reforma da Previdência, nas duas grandes marchas a Brasília, na luta contra as demissões da Embraer, e em inúmeras greves pelo país.

Eles argumentam contra o “hegemonismo”. Que hegemonismo é esse, se o nome proposto era “Conlutas-Intersindical”? Na verdade, o que se queria era impor, de forma sectária, a exclusão de qualquer menção à Conlutas na nova central.

Estava em discussão, porém, mais que um nome. Estava em questão a metodologia da democracia operária. A Intersindical queria impor um critério do tipo “ou aceitam o que eu quero, mesmo sendo minoria, ou eu rompo”. Ou seja, não pode existir uma participação das bases em decisões, prevalecendo apenas o consenso entre as correntes políticas.

Se a nova central já nascesse com essa característica, nasceria morta. Amanhã viria o mesmo método em todas as questões políticas e se imporia a paralisia e o burocratismo. Por este motivo, o Conclat foi convocado de comum acordo, com outro critério, de que as diferenças seriam resolvidas através de votações dos delegados, ou seja, pela democracia operária. Foi com essa democracia que a Intersindical rompeu.

Uma nova central
O congresso, ao constatar a ruptura, resolveu manter todas as votações, definir uma direção provisória e chamar as correntes que romperam a repensarem sua atitude e recompor a unidade.

A nova central Conlutas-Intersindical-Central Sindical e Popular foi fundada. Mais fraca do que poderia ser, se não houvesse a ruptura. Os delegados do congresso elegeram uma direção provisória com 21 nomes para funcionar até a próxima reunião, daqui a dois meses. A nova entidade já vai se expressar na luta de classes contra o veto do governo Lula ao fim do fator previdenciário. Junto com isto, continuará a chamar a Intersindical a recompor a unidade.

Retomar a unidade
Os que permaneceram no congresso fizeram uma avaliação da crise aberta. Janira Rocha, do MTL, afirmou que desde o início o movimento vem lutando pela unidade, mediando os conflitos entre os diferentes setores e defendeu a retomada dos esforços pela unidade.

Guilherme Boulos, dirigente do MTST, criticou a postura da Intersindical. ”Nós votamos a favor do nome ‘Central Classista dos Trabalhadores’, pois não concordávamos com o nome que os companheiros da Conlutas propuseram, mas nem por isso deixamos de estar aqui”, afirmou, lembrando que a necessidade de organização da classe trabalhadora ”está acima dessas questões”. Ele fez críticas ao PSTU mas terminou reafirmando que o MTST ”estará presente nessa nova central que estamos construindo” e que ”a partir do momento que terminar esse congresso devemos retomar todos os esforços para costurar novamente essa aproximação”.

José Maria de Almeida, o Zé Maria, afirmou em sua avaliação que “o caminho da construção da unidade não é uma luta fácil”. Sobre a polêmica, Zé Maria afirmou que o nome Conlutas não é de nenhuma força majoritária, mas um nome construído por milhares de trabalhadores por anos. Para o dirigente, a real polêmica envolvendo a retirada dos setores da Intersindical do congresso é o desrespeito à democracia operária. “Nenhuma força, seja ela minoritária ou majoritária, é dona de um nome ou de uma entidade. É sempre a base que deve decidir, e a base está aqui nesse congresso”, afirmou, sendo muito aplaudido.

Zé Maria lembrou do acordo realizado para os preparativos do congresso, de que qualquer polêmica que as direções dos setores não consigam resolver seria remetida à base. O sindicalista, porém, defendeu que sejam empreendidos todos os esforços para que esses setores retornem. ”Não é por nenhuma benevolência nossa, mas porque a nossa classe precisa”, disse, ressalvando, no entanto, que isso não pode se dar à custa da democracia operária.

Por fim, Zé Maria reafirmou a importância das resoluções do congresso e deixou claro que, já no dia imediatamente posterior ao congresso, a nova entidade estará nas ruas, atuando em defesa dos trabalhadores. ”Amanhã a Conlutas-Intersindical Central Sindical e Popular estará nas ruas e no próximo dia 14 estaremos no ato contra o veto de Lula ao fim do fator previdenciário”, afirmou.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

NA WEB: PORTAL ZÉ MARIA PRESIDENTE
zemariapresidente
Desde o último dia 5 está online o portal da pré-candidatura de Zé Maria à presidência. O portal concentrará videos e fotos da campanha, o debate programático, além de notícias diversas sobre a campanha.
Na página inicial é possível conferir um video postado na conta do YouTube do portal do PSTU defendendo uma segunda independência para o país, todo feito com animação em massinha.
Então fica o convite a toda companheirada que nos acompanha: Vamos divulgar o portal do Zé.

terça-feira, 1 de junho de 2010

ELEIÇÕES 2010
ZÉ MARIA, PRÉ-CANDIDATO DO PSTU AO CARGO DE PRESIDENTE DA REPÚBLICA, EM ENTREVISTA À TV ESTADÃO


ATUALIDADE DO SOCIALISMO NAS LUTAS E NAS ELEIÇÕES
Editorial do Opinião Socialista nº 405 

A crise econômica de 2007-2009 abalou fortemente a ideologia da supremacia do capitalismo. A grande campanha da “morte do socialismo”, difundida após a restauração do capitalismo no Leste Europeu, foi golpeada por uma crise econômica que colocou o planeta à beira de uma depressão semelhante à de 1929.

A gigantesca operação de contenção da crise feita pelos governos imperialistas, que injetaram 24 trilhões de dólares de dinheiro público para salvar as grandes empresas, conseguiu bloquear a queda livre da economia. Uma recuperação parcial se efetivou em 2009 sem resolver nenhum das contradições geradoras da crise. Ao contrário, seguiu a superprodução assim como uma enorme quantidade de títulos especulativos em mãos das grandes empresas. E se agravou ainda mais a situação, ao se gerar outra bolha financeira (a maior de todas), com o dinheiro dado pelos governos para as empresas transformado em mais capital especulativo.

Agora a crise europeia começa a derrubar mais uma ideologia do capital, de que a “crise acabou”. A grande bolha financeira começou a vir abaixo na Grécia, que está à beira da moratória, devendo arrastar também Portugal e Espanha. Junto com isso, o proletariado europeu (de maior tradição de lutas em todo o mundo) começou a se colocar em movimento, enfrentando os brutais planos de austeridade impostos pelo FMI.

O novo episódio da crise econômica, assim como a reação do proletariado europeu, reafirma a atualidade do socialismo. Não existe saída para crises econômicas do capital sem a expropriação das grandes empresas e a ruptura com o imperialismo.

Não existe possibilidade de lutar pelo socialismo sem que o proletariado se coloque decididamente em ação. Mesmo com o bloqueio das direções burocráticas, as greves gerais na Grécia e as mobilizações na Espanha e em Portugal indicam uma nova disposição para a luta e uma grande fermentação política na Europa.

Os trabalhadores e jovens no Brasil acreditam em sua maioria no governo, e acham que a crise não chegará ao Brasil. Estão enganados, e terão que fazer sua própria experiência para comprovar isto. É preciso levantar com força as bandeiras da luta dos trabalhadores e do socialismo para o Brasil de agora.

Existe uma parcela importante dos ativistas sindicais, estudantis e populares que entendem os sinais que nos chegam da Europa. Uma parcela importante deles estará reunida nos congressos da Conlutas e no Conclat. Estes congressos preparam o que pode ser a maior vitória do movimento de massas nesses dois mandatos de Lula: a criação de uma nova central unificada.

Essa nova central já nascerá sob as perspectivas abertas pelo novo episódio da crise econômica europeia. Terá de encaminhar um plano de lutas que se enfrente com suas consequências imediatas no Brasil, como o arrocho salarial do funcionalismo, a dureza do governo contra os aposentados, o corte nos gastos públicos.

E se preparar para grandes lutas quando a crise impactar de forma mais direta o país, com uma nova recessão que deve ocorrer durante o mandato do novo governo eleito em outubro. O enfrentamento da crise com as lutas diretas dos trabalhadores será muito mais fácil com a criação da nova central unificada a ser fundada em junho.

Essa é uma batalha fundamental, mas não a única. As eleições de outubro estão polarizadas entre duas propostas burguesas - Dilma e Serra - que defendem a continuidade do mesmo plano neoliberal do país. A “terceira via” de Marina Silva é, na verdade, mais uma alternativa do capitalismo.

Essas alternativas burguesas querem simplesmente enganar os trabalhadores. Dilma propõe “erradicar a pobreza até 2014”. Isso seria irrealizável sob o capitalismo, mesmo se não houvesse crise econômica. A desigualdade é a marca do capital, e basta ver a situação dos trabalhadores nos EUA, cada vez com maior pobreza, para entender a dimensão do engano defendido pelo governo Lula e sua candidata. Com a crise europeia, a proposta de Dilma aparece como mais uma das promessas eleitorais típicas das enganações da política burguesa. Serra, por seu lado, busca fazer esquecer o governo FHC, e aparecer como a “continuidade de Lula”. Marina quer aparecer como “algo novo” defendendo a política econômica dos governos FHC e Lula.

É necessário construir uma alternativa dos trabalhadores, claramente distinta dessas três propostas enganosas da burguesia. É possível afirmar uma alternativa socialista que dialogue com os trabalhadores e aponte o futuro, apostando na experiência inevitável com o novo governo eleito em outubro, seja Dilma ou Serra.

A pré-candidatura a presidente de Zé Maria expressa esse desafio. Apresenta um operário oposto à Lula e sua candidata. Isso concretiza um compromisso classista, em oposição a todos os acordos políticos e financeiros com a burguesia, seus representantes e partidos.

Tem a audácia de propor com clareza um programa socialista, que defende a estatização sob controle dos trabalhadores dos bancos e das grandes empresas multinacionais e nacionais. Defende a ruptura com o imperialismo e o não pagamento das dívidas externa e interna.

Infelizmente não foi possível construir uma candidatura unificada da oposição de esquerda, pelas diferenças programáticas existentes. Nessa situação, a candidatura de Zé Maria se propõe a expressar esse conteúdo programático classista e socialista, mais amplo que as fileiras do PSTU. Chamamos todos aqueles lutadores que estejam de acordo com a defesa aberta e clara de um programa socialista a se somar conosco e ajudar a construir essa campanha.
Grã-Bretanha: as eleições e a crise econômica

Leia abaixo a análise sobre a atual situação política e social na Grã-Bretanha. O artigo foi escrito por Bill Hunter, dirigente da International Socialista League – ISL, seção da LIT no país.

Bill Hunter, de Londres

As eleições gerais britânicas, realizada em 6 de maio, produziram um governo de coalizão entre conservadores e liberal democratas, a primeira coligação desse tipo do Tory (partido conservador) desde o período de 1931 a 1945.

A campanha intensiva dos meios de comunicação sobre a campanha eleitoral não correspondeu à falta de entusiasmo sentida pela maioria dos trabalhadores. Portanto, houve uma tentativa de gerar interesse em um nível de campanha presidencial americana, com debates de TV entre os três líderes dos partidos e, em seguida, novas tentativas para animar o clima com a previsão de que o governante Partido Trabalhista seria empurrado para o terceiro lugar pelo "Obama" chamado Nick Clegg e seu partido liberal democrata. De acordo com as pesquisas, era provável que seu partido dobrasse o número de assentos parlamentares que poderia ganhar.

No entanto, apesar de um governo trabalhista profundamente impopular, os liberais democratas na verdade acabaram com menos assentos que na última legislatura, e os Tories não conseguiram ganhar o controle total. Havia um medo real sentido pelos trabalhadores de um retorno ao governo conservador, que conduziu a um aumento na votação dos trabalhistas.

A eleição foi seguida de pouco mais de uma semana de decisões e acordos de bastidores que resultaram na assinatura de um acordo dos liberais democratas com os Tories. Descartando assim alguns de seus duradouros "princípios" para formar um governo de coalizão com os conservadores.

O futuro deste governo é desconhecido, e é provável que os dois partidos vivam maus bocados, na medida em que os princípios são comprados e vendidos. Mas a única certeza é que a classe operária vai ver futuras tentativas de prejudicar os seus direitos e qualidade de vida, que irão aguçar conflitos dentro dos dois partidos. À medida que a campanha da liderança do Partido Trabalhista não funcionou, os candidatos estão falando sobre o "próximo" trabalhismo, “confessando” que os erros anteriores foram em não ser fortes o suficiente em matéria de imigração, comportamento anti-social e benefícios sociais. Sem mudança de direção, há uma continuidade na passagem mais à direita, a fim de aumentar e aprofundar o controle sobre a classe trabalhadora.

Esta eleição demonstrou claramente o nível de consenso entre os três partidos na maioria das políticas, e também no que diz respeito à crise financeira e ao nível de endividamento. Não há margem para dúvidas de que a intenção é golpear a classe operária e fazê-la pagar.

Alternativas
As principais alternativas de esquerda nas eleições eram quase invisíveis, o que incluiu a Coalizão Socialista e Sindical controlada pelo Partido Socialista, o Partido Socialista dos Trabalhadores e o radical Respeito, liderado por George Galloway. Com poucas exceções, todos os assentos ganhos por um candidato de extrema-esquerda em 2005 viram um declínio acentuado de votação em 6 de maio.

A corrente Respeito tem uma base na classe trabalhadora asiática. Ela alcançou os melhores resultados com Abjol Miah em Londres (16,8% - terceiro), Salma Yaqoob em Birmingham (25,1% - segundo) e George Galloway em Londres, que perdeu seu assento parlamentar, com 8.160 votos (17,5 %). Como a Grã-Bretanha não tem nenhuma representação proporcional, nenhum assento foi ganho com estes resultados. Em geral, suas raízes nas comunidades da classe trabalhadora são limitadas.

Tanto o Partido Nacional Britânico (fascista) e o Partido da Independência do Reino Unido (extremamente antiimigrante) ganharam votos significativos, mas eles não ganharam assentos parlamentares. As principais posições tomadas pelos dois partidos de extrema direita são antimuçulmanas e antiimigração. No entanto, todos os principais partidos apoiam o reforço das leis antiimigração, e os liberais democratas seguirão este caminho. Estas são perguntas-chave que devem ser abordadas na construção de qualquer movimento para combater os ataques do capitalismo em toda a classe trabalhadora.

A crise da dívida
A quebra da economia no mundo e na Grã Bretanha em 2008 foi citada ao longo das eleições como algo que já passou, e que há uma lenta recuperação em curso. Não houve sugestão de que estamos no início de um novo período de queda. Os três principais partidos proclamam publicamente que estamos fora do pior da crise e em fase de recuperação, já que os bancos foram socorridos, e que agora é apenas uma questão de pagar a dívida pública. Houve também um acordo total de que o setor público e a classe trabalhadora terão que pagar uma dívida contraída pelos bancos e especuladores financeiros. Os partidos só diferiam quanto à questão de quando e em que velocidade.

A dívida do Reino Unido até o final de 2010 está prevista para estar acima de 180 bilhões de libras, o que fará com que seja o maior devedor da Europa. A dívida total da Grã-Bretanha tem crescido ao longo dos anos, passando de menos de 40% do PIB para 60%. Desde 2008, futuras quebras foram evitadas pelo programa de compra de títulos maciço realizado pelo Banco da Inglaterra - proporcionalmente, este foi o maior do mundo. Isto tem mantido até agora as taxas de hipoteca em níveis anormalmente baixos.

O governo britânico foi capaz de financiar um déficit orçamental de 12,5% do PIB, o equivalente ao da Grécia, a uma taxa de juros de mais de dois pontos percentuais inferior, e só porque o Banco da Inglaterra comprou a maioria dos títulos que emitiu no ano passado. Mas é incapaz de sustentar a compra a tal nível.

Sucessivos governos têm ocultado a dimensão da dívida, por exemplo, todas as dívidas devidas a empresas privadas através da PFI (Iniciativa Financeira Privada) são definidas como não sendo parte da dívida pública; e também exclui do cálculo a conta de pensões que o governo vai ter que pagar.

A precariedade da economia britânica tornou-se visível em 2007, quando os mercados financeiros internacionais começaram a elevar as taxas de juros. Isso levou o Northern Rock Bank à falência e ameaçou muitos outros bancos e sociedades.

O declínio da indústria
Após a Segunda Guerra Mundial, quase metade dos trabalhadores na Grã-Bretanha estavam empregados na indústria de transformação, e hoje essa produção responde por apenas 13% da economia. A indústria, que já representou quase 40% da produção do Reino Unido, agora responde por menos de 20%. Mesmo durante os chamados anos de boom da era Blair, estava em declínio, e tem diminuído progressivamente ao longo dos últimos 30 anos, em parte devido à concorrência do exterior. É o setor financeiro e o de serviços que têm crescido com um nível extraordinariamente maior de capital especulativo.

A crise econômica mundial continua, e a concorrência capitalista dos EUA, Europa, China e outros países está minando a economia britânica. A continuação da crise está dando à Alemanha e à França um controle reforçado da Europa, ao mesmo tempo em que procuram expulsar o capital britânico de suas fortalezas na Europa.

O jornal Financial Times e comentaristas burgueses têm sugerido que a única saída para a atual crise é aumentar as exportações britânicas, porém, a causa fundamental da crise é o excesso da produção de commodities. Então, retomar a indústria britânica está fora de questão.

Governos de coalizão
O Partido Trabalhista recebeu uma menor percentagem de votos do que durante a depressão da década de 1930. Em 1931, um governo nacional de conservadores, liberais e “traidores” trabalhistas tomou o poder. Essa aliança começou fazendo ataques maciços contra a classe trabalhadora. Eles reduziram drasticamente o seguro-desemprego em 20%, introduziram um brutal programa assistencialista baseado na renda (o “means test”), que separou famílias, mandaram muitos trabalhadores para as desumanas e degradantes “casas de trabalho”, e levaram milhões para uma pobreza profunda e duradoura. A economia só começou a se recuperar no curso da nova guerra mundial e nunca se recuperou completamente até depois da guerra, com o "boom" começando apenas nos anos 1950.

O novo governo de coalizão falou suavemente quando tomou posse, mas quase que imediatamente começou a empunhar o machado. Eles anunciaram 6 bilhões de libras em cortes sobre o que já estava em curso, como o corte de 1 bilhão de libras sobre o ensino superior que começou este ano, sob o governo trabalhista. Então, em 18 de maio, a organização de patrões (CBI) exigiu um congelamento dos salários de dois anos para o setor público e a privatização dos restantes serviços públicos.

O governo está ciente de que, impondo medidas de austeridade contra a classe trabalhadora, corre o risco de viver uma situação “grega” e, como diz o ditado, está tentando "pegar um tigre pelo rabo", porque eles temem que sejam comidos!

Hoje, o governo, com a ajuda das burocracias sindicais, vai procurar amarrar os trabalhadores. Mas os trabalhadores não estão derrotados como estiveram nos anos 1930, e vivem em um continente onde os trabalhadores são fortes e já estão fortemente resistindo aos ataques e às medidas de austeridade impostas sobre eles, como na Grécia.

Traições dos trabalhistas
Agindo cuidadosamente, o governo de coalizão não anunciou uma completa privatização dos correios, algo que os governos Thatcher e Blair não conseguiram, devido à militância dos trabalhadores do setor e ao apoio do público. Um plano foi anunciado para a "privatização parcial da Royal Mail (...) uma injeção de capital privado na Royal Mail, mas que manterá a estatal de propriedade pública em geral", já que o medo das reações dos trabalhadores continua forte.

O trabalhismo se tornou profundamente impopular entre os trabalhadores, que se sentiram traídos e excluídos por causa das privatizações, do aumento da desigualdade, da decadência do Serviço Nacional de Saúde (NHS), das leis sindicais, do aumento do desemprego e do trabalho precário, das guerras no Iraque e no Afeganistão, do escândalo das despesas de parlamentares etc.

O direito dos trabalhadores à greve foi atacado por uma série de leis dos trabalhistas, em uma tentativa de controlar o crescente descontentamento. Durante o ano passado, o sindicato dos transportes (RMT) teve sete greves declaradas ilegais pelos tribunais. Este ano o Unison, o sindicato do setor público, foi forçado a cancelar a greve pela mesma razão.

Desemprego
Na Inglaterra, o desemprego continua crescendo desde a crise financeira de 2008. Mesmo assim, durante a campanha eleitoral, os três partidos não falaram sobre o desemprego, quando isso é de interesse central para a maioria dos trabalhadores. Segundo o Instituto Nacional de Estatística, "a taxa de desemprego nos três primeiros meses de 2010 foi de 8%, 0,2% mais que no trimestre anterior", que é o valor mais elevado desde os três últimos meses de 1994.

No entanto, isso é apenas um flash da situação, porque o número de empregados e trabalhadores por conta própria trabalhando em meio período porque não conseguiram encontrar um emprego a tempo completo aumentou em 25 mil no trimestre para alcançar 1,07 milhão, o número mais elevado desde que os registros comparáveis começaram, em 1992. O número de empregos a tempo integral caiu em 103 mil, e o número de empregos a tempo parcial aumentou em 27 mil.

Os que pedem o seguro-desemprego (provisão para procurar emprego) diminuíram no mesmo período para 1,52 milhão, mas a taxa de emprego foi de 72%. Isso é devido aos enormes obstáculos criados pelo governo trabalhista enfrentados pelos trabalhadores quando pedem o benefício, medidas que começam a refletir as duríssimas medidas dos anos 1930.

Desafios para o futuro
A legislação antisindicatos é um desafio central para o movimento sindical. Até agora, as principais lideranças sindicais aceitaram mais de 30 anos da legislação antisindical, sem realmente tentar combatê-la, enquanto alguns setores de trabalhadores, como o dos correios, agentes penitenciários e trabalhadores da construção civil do petróleo têm muitas vezes ignorado as leis, e o Estado tem sido incapaz de deter seus movimentos.

As correntes de esquerda nos sindicatos devem fazer um chamado nacional para forçar os seus sindicatos a se preparar para os ataques que estão chegando. Haverá profundas e contínuas medidas de austeridade, os maiores ataques desde os anos 1930. Salários e condições de trabalho, o estado de bem-estar social e os serviços públicos foram ganhos devido a longas e duras lutas dos trabalhadores, mas eles vão desaparecer ou ser drasticamente reduzidos se uma luta para mantê-los não está preparada. Os dirigentes sindicais estão apenas com medo de perder suas finanças e aparatos, então irão conduzir uma luta nos tribunais, mas não estão dispostos a lutar nas ruas. No entanto, quando os trabalhadores expressam sua raiva à medida que o desemprego aumenta e os ataques começam, os sócios dos sindicatos começam a perceber a necessidade de uma verdadeira liderança trabalhista.

Criminalização dos trabalhadores e “islamofobia”
Existem três leis que constituem os maiores perigos para a classe trabalhadora e que estão relacionadas: as leis antissindicatos, os controles de imigração e as chamadas leis antiterror. O principal objetivo desta legislação é dividir a classe trabalhadora, aumentando o clima de "medo" e a desconfiança, procurando culpar os "outros" pela crise econômica, o desemprego e a destruição dos serviços.

No ano passado, 12 estudantes paquistaneses foram presos em Liverpool e Manchester através das leis antiterror. Gordon Brown anunciou então que um grande complô terrorista tinha sido evitado. No entanto, a polícia, que poderia tê-los prendido por 28 dias, liberou todos eles após 14 dias sem acusação formal, pois não houve provas. No entanto, eles foram mantidos na prisão sob a lei de imigração porque seus vistos de estudante haviam sido revogados, por isso foi também alegado que eles representavam uma "ameaça à segurança nacional".

O juiz de imigração "ofereceu" aos alunos a opção de retornar ao Paquistão, ou permanecer na prisão por pelo menos mais 18 meses. A maioria voltou para casa, mas dois permaneceram na Inglaterra para lutar e limpar seus nomes. No entanto, embora eles tenham vencido a deportação forçada, enfrentam "o pior dos mundos" e estão sujeitos às ordens de controle notoriamente brutais e cruéis. A nova coalizão, infectada pelo clima histérico que foi estabelecido pelo novo governo trabalhista, e a indiferente e viciada mídia não conseguiram sequer questionar qualquer possibilidade de sua inocência, rotulando-os de terroristas ligados a uma trama da Al Qaeda. O veredicto do tribunal kafkiano secreto, SIAC, condenou esses jovens sem ter que revelar a eles ou a qualquer outra pessoa qualquer prova ou evidência usada para condená-los.

As leis antiterroristas têm sido usadas contra um operário da construção que faz um piquete, militantes que viajam para a conferência do clima de Copenhagen para protestar e muitos outros manifestantes pacíficos. O problema é que a maioria das lideranças sindicais está ignorando esses ataques, como fazem os principais grupos revolucionários na Grã-Bretanha, como o Partido Socialista dos Trabalhadores (SWP) e o Partido Socialista, que não têm programa de luta contra essas leis como um todo. Mas essas leis estão prontas para serem aplicadas a cada pessoa na Grã-Bretanha e serão utilizadas para criminalizar o conjunto da classe trabalhadora, quando necessário.

Lutas da classe operária
Enquanto este artigo estava sendo escrito, uma greve não oficial começou perto de Liverpool em um estaleiro que se opõe à ameaça de demissões devido às encomendas em declínio. Uma série de greves contra os ataques à educação têm sido bem sucedidas, e receberam grande apoio das comunidades locais. Os funcionários da British Airways estão prestes a realizar uma greve de cinco dias. Isto ocorre após um recurso bem-sucedido em uma sentença anterior dizendo que a greve era "ilegal". Estas e outras lutas atualmente desconectadas são a expressão do descontentamento crescente que já existe por baixo de uma aparentemente “tranquila” superfície.

Os ataques de austeridade contra os trabalhadores na Grécia estão aparecendo antes que para os trabalhadores na Grã-Bretanha. As correntes sindicais de esquerda devem estar preparadas para apoiar os movimentos de greve iminente, incluindo as greves 'não oficiais' e as lutas contra as leis racistas e antimuçulmanas de imigração, além das leis "antiterror". Aqueles que querem dar liderança à classe só podem fazê-lo através da construção de movimentos por princípio internacionalistas na classe operária. Eles têm que construir o movimento de desempregados nas comunidades e sindicatos e defender todos os trabalhadores.

Os planos de austeridade são paralelos ao “poll tax” (cobrança de Thatcher de um imposto comunitário a todos os trabalhadores), já que eles vão atacar todos os setores dos trabalhadores, ao mesmo tempo. Como a luta anti-“poll tax”, em 1990, dos mineiros, em 1985, e dos estivadores, em 1997, não há dúvida de que haverá uma luta tremenda em uma situação nova, onde as convulsões internacionais serão ampliadas em um capitalismo britânico cada vez mais decadente.

Em maio, o Financial Times informou que a dívida terá de ser paga novamente em 50 bilhões de libras por ano, por muitos anos, e que o governo terá de enfrentar o desafio político. Sem sombra de dúvidas, eles estão olhando para a Grécia. Estamos entrando em tempos interessantes e voláteis, na medida em que todas as promessas do pós-guerra estão prestes a ruir, como o estado do bem-estar social, graças aos movimentos de massas dos trabalhadores britânicos, que obrigaram o capitalismo a ceder.

O período de recessão, com seus fluxos e refluxos, impulsionado pela evolução da situação internacional e pelo papel da Grã-Bretanha no mundo, abre um período revolucionário. Na superfície, a Grã-Bretanha parece muito longe disso, mas basear um prognóstico nos acontecimentos aparentes seria cair no velho inimigo do marxismo, o empirismo britânico. A mensagem para a classe operária foi colocada audaciosamente nas muralhas da Acrópole, na Grécia: "povos da Europa, levantam-se!”.